Quem é judeu?


Você sabe oque é hebreu, israelita e judeu? Veja agora mesmo as diferenças.

Introdução

A definição de quem é considerado judeu nos dias modernos será abordada pela visão do judaismo ortodoxo. Ao longo dos últimos 3300 anos, existe uma definição amplamente aceita pelos judeus, com base na Halachá (Lei Tradicional da Torá):

  • Nascimento (Se nasceu de uma mãe judia, é judeu)
  • Conversão (Se fez um processo de conversão ortodoxo, é judeu)

A origem do povo judeu remonta aos patriarcas bíblicos Abraão, Isaac e Jacó, como relatado na Torá. Abraão é considerado o primeiro Hebreu a estabelecer uma relação com Deus, que o chamou para deixar sua terra natal e ir para Canaã, terra que posteriormente seria dada como herança para seus descendentes. Abraão é chamado o "pai de uma multidão de nações", pois dele descendem diversos povos.

Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás pai de uma multidão de nações. O teu nome não será mais Abraão, e sim Abraão, porque farei de ti o pai de uma multidão de nações. (Gênesis 17:4-5)

Seu neto Jacó, que teve o nome mudado para Israel, é tido como o ancestral epônimo dos israelitas. Foi a partir dele que as doze tribos de Israel se originaram.

O teu nome já não será Jacó, e sim Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste. (Gênesis 32:28)

Podemos dizer que a partir do patriarca Jacó, que teve seu nome mudado para Israel, as doze tribos que se originaram dele passaram a ser chamadas de israelitas, como relatado na Torá. As 12 tribos são estas:

1. Rúben
2. Simeão
3. Levi
4. Judá
5. Dã
6. Naftali
7. Gade
8. Aser
9. Issacar
10. Zebulom
11. José (Efraim e Manassés)
12. Benjamim

Porém, ao longo dos séculos, com o cativeiro na Babilônia e a diáspora pelo mundo, o termo "judeu" foi cada vez mais usado para identificar o povo que permaneceu fiel as leis de Deus.

É possível notar que o livro de Ester já faz uso predominante do termo "judeu" para se referir ao povo de Israel. O livro de Ester relata eventos que ocorreram durante o exílio dos judeus na Pérsia, aproximadamente no século V AEC. Durante esse período, os judeus eram conhecidos como israelitas ou hebreus, e o termo "judeu" também era usado para se referir a eles. A palavra "judeu" deriva do nome da tribo de Judá, uma das doze tribos de Israel.

E em toda província, e em toda cidade, aonde quer que chegasse a palavra do rei, e a sua ordem, havia entre os judeus alegria e gozo [...]. (Ester 2:5-6)

Diferenças entre os termos

Quando exploramos a história e a cultura do povo que tem uma conexão profunda com a terra do atual moderno estado de Israel, podemos nos deparar com termos como hebreu, israelita e judeu. Embora essas palavras sejam frequentemente usadas de forma intercambiável, elas têm significados distintos e refletem diferentes períodos e aspectos da identidade desse povo.

Hebreu

O termo 'hebreu' remonta a tempos ancestrais e está ligado às raízes históricas do povo judeu. Originalmente, a palavra 'hebreu' era usada para se referir aos descendentes de Abraão, um patriarca bíblico que é considerado o ancestral comum dos judeus. Esse termo denota a identidade do povo durante os primeiros estágios de sua história, incluindo o período das narrativas do Antigo Testamento da Bíblia.

Israelita

À medida que a história se desenrola, o termo 'israelita' ganha destaque. Ele se refere ao povo que descendia das doze tribos que formaram o Reino de Israel, após a liderança de Moisés e a conquista da Terra Prometida. O termo 'israelita' está intimamente associado à formação do reino e à prática da religião judaica, que desempenhou um papel fundamental na vida e na cultura desse povo.

Judeu

Por fim, temos o termo 'judeu', que é amplamente utilizado nos tempos modernos para se referir aos seguidores do judaísmo, uma das mais antigas religiões monoteístas do mundo. O termo 'judeu' também abrange uma dimensão étnica e cultural, pois se refere tanto àqueles que seguem a fé judaica quanto aos descendentes do antigo povo israelita. Os judeus têm uma rica história, espalhada por diferentes períodos, diásporas e nações, e sua identidade é frequentemente moldada pela herança cultural e pelas crenças religiosas.

O que é ser judeu?

Originalmente, o termo Judeu (Yehudi em Hebraico) referia-se especificamente aos membros da tribo de Judá (Yehudah em Hebraico), distintos das outras tribos de Israel. Contudo, após a morte do Rei Salomão, a nação de Israel foi dividida em dois reinos: o reino de Judá e o reino de Israel (I Reis 12; II Crônicas 10). Depois dessa época, a palavra Yehudi poderia ser usada adequadamente para descrever qualquer pessoa do reino de Judá, que incluía as tribos de Judá, Benjamim e Levi, bem como assentamentos dispersos de outras tribos. O exemplo bíblico mais óbvio desse uso está em Ester 2:5, onde Mordecai é mencionado tanto como Yehudi quanto como membro da tribo de Benjamim.

No século 6 AEC, o reino de Israel foi conquistado pela Assíria e as dez tribos foram exiladas da terra (II Reis 17), deixando apenas aqueles que viviam no reino de Judá permanecerem para continuar a herança de Abraão. Essas pessoas do reino de Judá eram geralmente conhecidas por si mesmas e por outras nações como Yehudim (plural de Yehudi), e esse nome continua a ser usado hoje.

Em suma, a palavra Judaísmo significa literalmente "Judá-ismo", isto é, a religião dos Yehudim. Na linguagem comum, a palavra "Judeu" é usada para se referir a todos os descendentes físicos e espirituais de Jacó/Israel, bem como aos patriarcas Abraão e Isaque e suas esposas, e a palavra "Judaísmo" é usada para se referir a suas crenças.

Judeu por nascimento

A linhagem materna é considerada a linha de descendência judaica mais confiável e mais facilmente rastreável ao longo das gerações. A ênfase na linhagem materna se desenvolveu ao longo do tempo como uma maneira de garantir a continuidade do povo judeu em uma época em que a paternidade poderia ser menos clara devido a casamentos mistos ou à possibilidade de relações extraconjugais. Ao atribuir a identidade judaica à linhagem materna, a comunidade judaica procurava estabelecer uma conexão ininterrupta com a herança e a fé judaicas. Vemos no livro de Deuteronômio um trecho que valida essa visão:

Tua filha não darás ao filho dele, e a filha dele não tomarás para teu filho; Pois ele faria desviar teu filho de Mim, para que servissem a outros deuses; e a ira de ADONAY se acenderia contra vós, e depressa vos consumiria. (Deuteronômio 7:3,4)

Portanto, dentro do judaismo ortodoxo, não é considerado judeu a pessoa que tenha linhagem estrangeira por parte da mãe, por mais que se comprove que a pessoa é filho legítimo de um pai judeu.

Judeu por conversão

É possível que uma pessoa não pertencente à fé judaica busque uma conversão para se tornar parte do povo judeu. No entanto, essa conversão está sujeita às condições estabelecidas pela halachá, que incluem requisitos como a circuncisão (para homens), imersão em um micvê e a aceitação de todos os mandamentos da Torá (613 leis). Além disso, é necessário que a conversão seja supervisionada por um Bet Din (Tribunal Rabínico) composto por estudiosos que seguem a autoridade Divina da Halachá e vivem de acordo com seus preceitos em seu dia a dia.

Sobre os "falsos-judeus"

De acordo com a halachá, uma pessoa que não segue os requisitos estabelecidos para a conversão judaica não é considerada judia. Portanto, se alguém se converteu sem cumprir adequadamente essas condições, essa conversão não será reconhecida pelos judeus ortodoxos e pelo moderno estado de Israel.

Há registros de casos em que indivíduos que se converteram ao judaísmo de forma incompleta ou foram enganados por líderes religiosos. Como consequência, essas pessoas não têm permissão para frequentar as mesmas sinagogas que os judeus ortodoxos e também não possuem o direito de obter a cidadania israelense, e é claro, são taxadas nesse meio como "falsos-judeus" por não terem efetuado o processo de acordo com a halachá.

Judeus desviados

Conforme mencionado anteriormente, o judaísmo é considerado tanto um grupo étnico quanto religioso. Isso significa que, independentemente da escolha religiosa ou da adesão às tradições, uma pessoa de ascendência judaica é reconhecida como judia ao longo da vida. Portanto, mesmo que um judeu se desvie da fé e se torne cristão, ateu ou muçulmano, ele ainda será considerado etnicamente judeu. Essa identidade étnica é baseada no fato de ter nascido em uma família judaica e faz parte do seu legado e herança cultural.

Diferentes grupos judaicos

Durante o período do Segundo Templo, que abrangeu aproximadamente do século VI AEC até o ano 70 EC, o judaísmo passou por um importante processo de desenvolvimento e diversificação. Nesse período, diversas seitas e correntes de pensamento surgiram, cada uma com suas próprias interpretações da religião judaica. Entre essas seitas, a mais influentes foi a seita farisaica, que teve um impacto significativo na configuração do judaísmo que conhecemos hoje.

A seita farisaica, também conhecida como "Judaísmo Rabínico", destaca-se como uma das mais proeminentes e influentes no contexto religioso judaico. Sua importância reside no fato de ter documentado extensivamente sua própria religião e registrado tradições que remontam à época de Moisés.

Através do Judaísmo Rabínico, os fariseus estabeleceram um legado duradouro de estudo, interpretação e aplicação da lei religiosa. Sua dedicação ao registro e preservação das tradições judaicas, bem como sua influência na vida religiosa, moldaram a identidade e a prática judaica ao longo dos séculos. É graças a esse empenho que temos acesso a um rico corpo de conhecimento que nos permite entender e vivenciar a religião judaica até os dias de hoje.

Nos dias atuais, aqueles que praticam o "Judaísmo Rabínico" no seu máximo estão dentro da categoria de judeus ortodoxos. Além dos judeus ortodoxos, existem outros grupos que seguem diferentes abordagens e interpretações da religião judaica. Esses grupos são conhecidos como judeus não-ortodoxos e incluem os judeus liberais, os judeus conservadores e os judeus reconstrucionistas.

Os judeus liberais são uma corrente dentro do judaísmo que enfatiza a adaptação e a modernização da tradição judaica. Eles buscam uma abordagem mais flexível em relação à interpretação da halachá, permitindo maior liberdade individual na prática religiosa. Os judeus liberais valorizam a inclusão e a igualdade de gênero, abraçando a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida religiosa e promovendo a aceitação de casamentos inter-religiosos.

Os judeus conservadores seguem uma abordagem intermediária entre o judaísmo ortodoxo e o judaísmo liberal. Eles buscam manter a tradição judaica, mas também estão abertos a adaptações e mudanças progressivas. Os judeus conservadores valorizam a interpretação e a evolução da halachá, permitindo certas modificações nas práticas tradicionais para se adequarem ao mundo moderno. Eles enfatizam a importância da educação judaica e da participação ativa na vida comunitária.

Os judeus reconstrucionistas são outro grupo dentro do judaísmo não-ortodoxo. Eles seguem uma abordagem que enfatiza a cultura e a identidade judaica, além da religião. Os judeus reconstrucionistas veem o judaísmo como uma tradição em constante evolução, moldada pela experiência histórica e pela influência cultural. Eles valorizam a participação democrática e a tomada de decisões coletivas dentro das comunidades judaicas.

É importante notar que, de acordo com a interpretação ortodoxa da halachá, um não-judeu que se envolver com grupos não-ortodoxos do judaísmo pode ser considerado um "falso-judeu". Isso significa que, aos olhos da comunidade ortodoxa e de acordo com a lei religiosa judaica, eles não seriam reconhecidos como judeus legítimos. Essa distinção é significativa em relação à cidadania israelense, uma vez que o Estado de Israel segue uma política de reconhecer a lei religiosa judaica ortodoxa como critério para a determinação da identidade judaica.

Curiosidade: Seitas judaicas

Antes da destruição do Segundo Templo em 70 EC, a província romana da Judéia abrigava uma comunidade judaica diversificada, caracterizada por vários movimentos e grupos que muitas vezes entravam em conflito entre si. Essas divisões incluíam os fariseus, saduceus, essênios, zelotes e os primeiros seguidores do cristianismo.

Essas divisões e conflitos são amplamente documentados em várias fontes históricas. Flávio Josefo, um historiador judeu-romano do século I, relata essas divisões em sua obra "Antiguidades Judaicas". Além disso, o Novo Testamento, uma coleção de textos religiosos cristãos, também menciona as divergências entre os grupos judaicos da época.

Outra fonte importante para entender essas divisões são os Manuscritos do Mar Morto, uma coleção de textos antigos descobertos em cavernas próximas ao Mar Morto. Esses manuscritos, que datam do período do Segundo Templo, revelam diferentes perspectivas e práticas religiosas entre os judeus daquela época.

Os escritos rabínicos posteriores, como o Talmud, também fornecem evidências adicionais dessas divisões antigas. O Talmud é uma compilação de ensinamentos e discussões rabínicas que abrange séculos de tradição judaica. Esses textos refletem a memória coletiva desses cismas e fornecem uma visão valiosa sobre as divergências e disputas que ocorreram entre os grupos judaicos.

Após a destruição do Templo, as seitas judaicas mencionadas - como os saduceus, essênios e zelotes - perderam sua influência e presença significativas. As razões para o declínio dessas seitas são complexas e envolvem fatores políticos, sociais e religiosos. É importante ressaltar que uma seita que surgiu no primeiro século EC teve um papel significativo na formação do cristianismo: os messiânicos. Essa seita englobava grupos como os nazarenos, ebionitas e a seita do caminho, entre outros. Esses grupos compartilhavam a crença de que Jesus de Nazaré era o Messias prometido. Por terem uma visão fundamentalmente diferente do judaísmo tradicional, acabaram se separando e se tornando uma nova religião, atraindo principalmente não-judeus.


Referência

CHABAD. Quem é judeu?. Disponível em: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1216626/jewish/Quem-Judeu.htm#:~:text=Qualquer%20pessoa%20nascida%20de%20m%C3%A3e,todos%20os%20mandamentos%20da%20Tor%C3%A1. Acesso: 14/01/2024

JUDAISM 101. Who is a jew?. Disponível em: https://www.jewfaq.org/who_is_a_jew. Acesso em: 02/10/2021

WIKIPEDIA. Jewish religious movements. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Jewish_religious_movements. Acesso em: 02/10/2021

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